terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Drogas - Não há limites para o sofrimento do usuário, dos familiares, amigos e vizinhança afetada. Nem escrúpulos no traficante que a oferece – desde a primeira vez.

Deise Bastos Pasquarelli
para o Diário de Catalão


Inimiga  disfarçada de aliada, a droga invade  as famílias  sem distinção de classe social. O mau que circula na sociedade  também não escolhe idade. Só o fim trágico é certo para aqueles que não acordarem desse pesadelo.


O competente Sargento da Polícia Militar, em Catalão há 18 anos,  o conhecido Anísio Pereira, também vereador na Câmara de Catalão, visitou a redação do DC para falarmos abertamente sobre esse mau que alcança nossa cidade de maneira rápida e silenciosa, como uma doença - as drogas.
Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito Público, foi pioneiro do PROERD – Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência - em Catalão (2004). Também é capacitado por cursos de especialização na Academia da Polícia Civil (2002), para proferir  palestras sobre prevenção às drogas – em escolas, empresas ou grupos setoriais de interesse.
“Quando cheguei aqui, quando se falava em droga, falava-se da maconha e raros eram os casos de cocaína na apreensão”, comenta o policial militar ao definir uma linha do tempo em relação a chegada das drogas em Catalão.
“ O crack é da década de 80, apareceu nos Estados Unidos; a cocaína era mais cara e introduziram o crack no mercado obscuro da droga por ter valor inferior. Nos anos 90 (1995 e 96), chegou em Catalão e começaram a aparecer as primeiras pedrinhas, fato que assustou e alarmou demais toda a comunidade”, relembrou o Sargento Anísio.
De acordo com o sargento, há estágios até tornar-se um dependente, no caso da maconha. “ Primeiro, o sujeito experimenta e vai fazendo uso da droga de forma regular até ficar dependente”.
Mas o crack é traiçoeiro, como qualquer outra droga, só que mais rápido. “ O crack é na primeira vez, uma vez só e a pessoa está presa a este mau”, alerta.
“A pessoa faz qualquer coisa para alimentar o vício e não mede consequências”, comenta o PM ao contar que recebe muitas cartas e telefonemas de pessoas que o procuram para contar de situações tristes e perigosas, por conta de ter no seio familiar ou na vizinhança, dependentes que se tornaram violentos, agressivos por conta de manter o vício – eles matam, fazem de tudo, sem escrúpulos.
“As ocorrências policiais em Catalão há 18 anos atrás, traziam homicídios relacionados a  briga por dinheiro (dívidas) ou por relacionamento afetivo (marido e mulher). Hoje, os homicídios são relacionados ao uso de droga – usuários e acerto de contas com traficantes. Uma tristeza”, relatou o Sargento que está há 16 anos num trabalho diário de relato das ocorrências da cidade, nos microfones das emissoras de rádio.
Atualmente, mais de 90% dos crimes locais estão diretamente ligados a droga. “ Tivemos dois casos em Catalão de homicídio com queima de cadáver, ligados as drogas”, informou indignado.
Oxidado ou “óxi” – Nova droga

É  resultado da substituição do bicarbonato e do amoníaco usados nas regiões Centro-Sul do Brasil  na mistura com o cloridrato de cocaína por querosene e cal virgem.
“Essa droga tem seus efeitos  seis vezes mais forte do que o crack. Enfraquece, deixa o usuário irracional e o leva a ações descabidas. Um futuro desenhado com mais mortes, mais assaltos e homicídios espera por seus usuários e traficantes”, reforçou Sargento Anísio.


“O que resta da cocaína é um subproduto, misturado com outras substâncias, inclusive o  ácido sulfúrico”, traduziu ao pé da letra o sargento sobre esta nova receita que não deixa por menos – vicia e mata mais rápido que o crack.
“Catalão não registrou casos de apreensão, mas infelizmente Goiás está entre os seis estados do país onde já ocorreram apreensões: Amazonas, Pará, Rondônia, maranhão e Amapá”. Frisou o sargento.
“Para que uma susbtância seja considerada “droga”, cabe ao Ministério da Saúde a declaração por meio da inclusão numa relação ou listagem oficial. Se a substância não constar nesta lista,  o cidadão que tem o porte não poderá ser preso”, esclarece Sargento Anísio ao enfatizar que o tráfico ainda anda adiante dos órgãos e instituições de saúde, pois enquanto as articulações para criação de centros de tratamento para usuários de droga “x”, já surge a droga “y”, com seus seguidores.

Vale salientar que o combate tanto às drogas quanto ao tráfico é de competência federal (artigo 144 da Constituição Federal); as demais polícias atuam de forma conveniada, como explicou-nos o PM. Mas, no Brasil, não há como esperar pela atuação da Polícia federal efetivamente e diariamente, presente em cada cidade de cada estado, senão, como estaríamos hoje (incluindo Catalão)?
“ O número do efetivo federal é irrelevante em relação ao número de casos no país. Desta forma, o trabalho da PM tem sido relevante em catalão por estar presente nocotidiano da comunidade e ter a possibilidade de reconhecer a necessidade no momento de uma assistência”, identificou.

Um golpe (mais um) do traficante no usuário de drogas
Sem o conhecimento do “cliente” usuário de maconha, o traficante faz uso da chamada criptonita. É a introdução da substância crack no cigarro da maconha.
Da mesma forma , pode ocorrer com o fumante de cigarro comum (droga lícita). “Não aceite cigarro de ninguém na rua, em festas e de desconhecidos. Você pode ser uma vítima fácil que estará viciada no mesmo momento, sem saber da substância que está agindo em você através do cigarro”, denuncia o Sargento sobre esta prática cruel de aliciamento para o mundo das drogas.
O primeiro passo para fugir deste círculo que leva à morte
Sargento Anísio define acertadamente o caminho pelo qual passam estes atormentados pelo vício. “Tanto para as drogas como para a bebida, o viciado passa pela abstinência. Todos sofrem. O primeiro passo nesta luta é a informação, orientação e convívio familiar. A família é a base de tudo”, resume bem o policial militar.

O entrevistado evidencia que um número grande de casos de filhos e pais/mães dependentes, são oriundos de lares desfeitos ou desestruturados. “ Não é só a separação física, mas a separação por interesses individuais acima dos interesses da família, quer pelo excesso de trabalho, quer pela opção de lazer sem o filho, como o jogo de futebol sem a família ou passeios a atividades da mulher, do mesmo modo. Distância não é bom para familiares”, acentuou.

“Não há nada pior que o bom conselho seguido de um mau exemplo”
A frase do Sargento Anísio  define bem qual a postura de pais, amigos, familiares e todo cidadão consciente perante ao problema do vício. Fazer uso de drogas, embriagar-se e depois tentar recomendar para o filho que “isso não se faz, não é bom para você”, realmente é um péssimo negócio.

Usuário e Traficante são diferentes perante a Lei
A Lei 11.343/06 diferencia quanto as penalizações para estes dois grupos, mas a caracterização e enquadramento do cidadão não se baseia na quantidade de droga que carrega, mas sim na finalidade do porte.
Ao traficante, a pena pode variar entre 5 até 15 anos de reclusão; o usuário pode responder o processo judicial em liberdade.

“Hoje, o serviço de inteligência atua em regiões de onde partem denúncias, inclusive pelo fone 190. Anonimamente, a comunidade pode colaborar com o fim deste tipo de violência feita contra a família”, orienta o PM ao destacar que todos os bairros de Catalão hoje possuem atuação de traficantes. “Esse tipo de gente muda muito de endereço, troca de carro. Com maior ou menor intensidade, infelizmente os bairros tem sempre um traficante residindo ou escondendo a droga”, lamentou.

A droga apreendida em Catalão, geralmente vem de São Paulo ou Paraná; dependendo da substância pode vir também do Mato Grosso e Paraguai, informou o sargento ao exemplificar um caso recente em Campo Alegre, onde foram localizados cerca de 200 plantas de maconha cultivadas  na região conhecida como “Pé do Morro”. Outro caso, localizou em região diferente, um pé de maconha que já alcançava 2 metros de altura, em meio a uma plantação de outra espécie vegetal que nada tem a ver com a droga.

Um recado especial

Sargento Anísio deixa um alerta aos pais para que tenham mais proximidade de seus filhos, dediquem-se, orientem.Aos filhos, que obedeçam aos pais. Rebeldia afasta a família.
“A base da vida é a família e numa brecha qualquer dentro do lar é que se instala o traficante e a droga. NUNCA use para experimentar, pois o vício vem logo no primeiro encontro e a dependência, junto. Droga não vê idade ou sexo”, enfatiza o PM que desenha um triângulo que chama de vitorioso para erradicar este mau: família – escola e comunidade organizada (igrejas, polícias, clubes de serviço). 

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