terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sentir-se incluído Especiais, deficientes, diferentes. O que falta para serem tratados com respeito?

Deise Bastos Pasquarelli
para o Diário de catalão  27.12.2010


A definição relata acessibilidade como “permitir que pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida participem de atividades que incluam o uso de produtos, serviços e informação, além de permitir o uso destes por todas as parcelas da população”.
Vamos começar pelas questões básicas, para Catalão: Os prédios públicos possuem  acesso para deficientes? Endereços privados (bancos, lanchonetes) obedecem esse critério? Têm os serviços de leitura adaptado para cegos? As calçadas em vias públicas estão com a inclinação de acesso para cadeirantes nas faixas de pedestres? Toda propaganda e programação televisiva tem disponível o recurso de legenda para pessoas com problemas auditivos? Os ônibus possuem plataforma de acesso para cadeirantes, deficientes físicos ou com mobilidade reduzida?
Na internet, onde o  termo acessibilidade refere-se a recomendações do W3C (World Wide Web Consortium - W3C), “que visa  permitir que todos possam ter acesso aos sítios, independente de possuírem alguma deficiência ou não”, orientam  pelo tamanho e cor da fonte, localização dos espaços clicáveis, facilidade de disponibilização de conteúdo e outras sugestões relativas, até aos códigos das páginas (HTML e CSS, entre outros).
Em Catalão
O professor do Curso de Administração na Universidade Federal de Goiás – UFG – Campus Catalão, Serigne Ababacar Cissé Ba, senegalês que vive no Brasil desde 1996 e à frente da ASPDEC (Associação dos Portadores de Deficiência em Catalão) desde maio deste ano, concedeu-nos uma entrevista esclarecedora, sanando muitas dúvidas relacionadas ao público específico que mora na cidade.


Serigne Ababacar Cissé Ba


      Quantos são associados hoje? Hoje temos um pouco mais de 600 associados devidamente registrados e com documentação em dia.
      É possível estimarmos o número de deficientes por diferenciação (cegos, cadeirantes, deficientes auditivos? Esse número – 600 – são os  devidamente registrados na ASPDEC, acredito que  pode ser tranquilamente multiplicado por 3 ou 4 para se ter uma noção aproximada do número de portadores de deficiências entre  todos os tipos confundidos na cidade de Catalão.
     Catalão é uma cidade preparada para proporcionar a  inclusão dos deficientes? Hoje podemos dizer que não, mas algumas ações tímidas estão sendo vistas devido à cobrança cada vez mais crescente da categoria. Uma audiência pública está sendo preparada com o Dr. Rony (Ministério Público)  para ver que rumos tomaremos junto ao poder público e empresas privadas. Se comparada à cidade Uberlândia que nós frequentamos muito, pode-se dizer que ainda há muitas coisas para se fazer. Em relação aos empregos também, o mesmo fenômeno é sentido, pois as empresas contratam os deficientes apenas quando são obrigadas pela lei e não se preocupam em adequar as vagas às necessidades dessas pessoas, o que provoca uma alta rotatividade das mesmas. Existe realmente um despreparo também das pessoas em lidar com os deficientes no sentido do próprio tratamento na convivência cotidiana. Um exemplo plausível desse despreparo é uma agência como o Banco do Brasil que não conta com nenhum rampa ou elevador para o deficiente que necessita de atendimento no piso superior. As vagas reservadas nas ruas e avenidas da cidade com suas devidas placas pelo SMTC são na maioria das vezes desrespeitadas pelas pessoas que não têm a carteirinha oficial da SMTC.
      Na sua opinião, o que falta na cidade para que tenha  o perfil mais próximo do perfil e dia-a-dia do deficiente? Na minha opinião, o que falta é uma conscientização tanto dos setores público e privado no sentido de facilitar a acessibilidade a essa categoria que representa quase 15% da população brasileira e que cresce a cada dia. O perfil do deficiente pode ser facilmente traçado através das fichas que temos na Associação, é só fazer o levantamento para ter um retrato. Mas, de maneira geral, a maioria nasceu com a deficiência, outros por acidentes e costumeiramente de classe baixa, sem estudos ou formação adequada para o mercado de trabalho. Vive na dependência de familiares e do auxílio do INSS. Temos homens, mulheres e crianças. A maioria nunca trabalhou. Esse seria o perfil olhando dentre as fichas e com o dia-a-dia na Associação e na cidade.
     Os superdotados em Catalão estão na lista de deficientes? Acredito que nem a população reconhece os superdotados como deficientes. Em algumas cidades de Minas Gerais existe centros específicos para eles a exemplo do CEDET (Centro de Desenvolvimento do Potencial e talento. Acesse no http://www.aspat.ufla.br/CEDET.htm) mantido pelo própria Prefeitura Municipal da cidade onde essas pessoas recebem um treinamento e uma formação diferente adequados às suas necessidades. Acredito que exemplos desse tipos poderiam auxiliar bastante essas pessoas no seu desenvolvimento e melhorar assim suas qualidades de vida.
     E o mercado de trabalho, está pronto para os deficientes da cidade? As empresas empregam porque são obrigadas, porém empregam mal e de forma despreparada. Quando o Ministério do Trabalho “entra em ação” elas correm atrás da ASPDEC e há outras empresas  que preferem pagar multas por acreditarem que "esse pessoal só dá trabalho". Para reverter essa situação é preciso uma conscientização e quem sabe até uma política de incentivo fiscal para quem emprega pessoas com deficiências.
      A entidade tem sobrevivido financeiramente de que modo? Em Catalão, basicamente a entidade sobrevive com a ajuda da Prefeitura que paga o aluguel da sede e as contas fixas. Contamos de forma esporádica com determinadas penas e  multas que a justiça nos manda, há ajuda com alguns alimentos da Mesa Brasil em Goiânia com a intermediação da psicóloga Dra. Karina e de doações de pessoas físicas de equipamentos que não usam mais. A Anglo American -  no tempo que eu estou na entidade, desde maio deste ano -  foi a única empresa da cidade que auxiliou com uma doação de 6 computadores.
      E o projeto de basquete para cadeirantes, vai ter continuidade em 2011? O projeto Chute, Tabela e Xuá está muito comprometido na sua continuação devido a vários problemas referentes à captação de verbas pela Federação Goiana de Basquete em Cadeiras de Rodas (FGBC) ;  a orientação estratégica do parceiro principal que é a Anglo American – foca hoje seu social para o combate a AIDS na África,  onde tem negócios. No ano de 2011 tentaremos tomar o projeto e continuá-lo pela própria ASPDEC com o auxilio da UFG e de empresas locais que vão querer dar seu aporte num  projeto tão interessante como esse. Eu torço para que não acabe, pois os investimentos mais pesados como a compra das cadeiras já foram realizados, o Núcleo de Catalão já conta com as cadeiras e  alguns equipamentos, além do Ginásio para os treinos. Então, aproveito para fazer um apelo às pessoas de boa vontade, às empresas locais  e ao poder público local -  para não deixar morrer esse projeto tão nobre e que tira de suas casas muitos deficientes que passam a fazer exercícios físicos, brincar, confraternizar e fazer novas amizades.
      Você tem alunos deficientes na Unversidade? Particularmente, eu não tenho alunos deficientes, mas eu observo a acompanho o tratamento desses últimos que se encontram no campus. Eu sei que existe um elevador em um dos blocos do campus, corrimãos em algumas escadas  e vagas reservadas  além de uma pessoa que interpreta a língua de sinais para surdos e mudos (LIBRAS). Tem algumas iniciativas que precisam ser melhoradas e estendidas para que o aluno com deficiência tenha coragem de tentar o vestibular e   frequentar tranquilamente suas aulas.
      Qual é o certo: portador de deficiência ou deficiente? Particularmente,   não vejo importância em  conceitos ou nomes mas conteúdo;  seja qual for o nome, o importante é saber que você está lidando com uma pessoa que tem certa necessidade e que é um pouco diferente de você por ter algum membro em disfunção, mal-formação ou restrição temporária. O que precisamos  é discutir com a sociedade mais o conteúdo e o significado. Quem é essa pessoa, como eu devo lidar com ela, como respeitar o que a lei lhe outorga e como fazer com o que ela se sinta parte de uma sociedade rica por sua diversidade...
      O professor Serigne finaliza nossa entrevista reforçando que a cidade de Catalão precisa ajustar seu espaço urbano para o trânsito tranqüilo dos deficientes. “Faltam calçadas adequadas, ônibus adaptados. Na área social,  algumas conquistas podem ser notadas como o respeito dos 15% das casas do programa do governo Minha Casa, Minha Vida serem destinadas aos deficientes. Em determinados eventos locais como Pecuária e outros eventos públicos, nossas carteirinhas são respeitadas para o ingresso gratuito,  mesmo com algumas barreiras notadas ainda em certos locais. O Diário de Catalão agradece a disponibilidade.
  Saiba Mais
Leis e decretos sobre acessibilidade
Decreto nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004
Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009

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